quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Portugal vive um dilema. Dispensar os médicos estrangeiros, ou renovar os contratos.


Por: David Avelar


Bons tempos em que conhecíamos todos os profissionais que nos atendiam no dia a dia na saúde e na doença. O padeiro que sabia exatamente o pão certo de cada dia. O sapateiro, o alfaiate, o açougueiro, o leiteiro que deixava a garrafa de leite na porta. Eu tinha um médico, Dr Tibério, amigo de meu avô, que me curou de diversas doenças, como bronquite,  alucinações noturnas, etc. Durante os 13 anos que vivi em minha terra, antes de vir para o Brasil, ele tratou de mim. O gerente do meu banco era o gerente de meu avô, de meu tio. Sr Heitor Costa.

Concordo com diversos jornalistas que estão vendo mais longe e como está acontecendo em Portugal, estão vislumbrando o momento em que acabar o contrato com médicos que, inevitavelmente, vão criar um vinculo familiar com a comunidade. Isto é o que está acontecendo em Portugal com médicos de uma série de países que estão trabalhando no interior, onde são amados pela população, que não quer que eles saiam da comunidade. Lembram-se da história dos dentistas em Portugal? Não era pela competência técnica que os profissionais portugueses reclamavam e sim pelo carinho que os brasileiros dispensavam aos pacientes portugueses. É assim com a maioria dos profissionais latinos que vão prestar serviços em outros países. Encontrei muitos médicos brasileiros nos Estados Unidos, mais precisamente em Massachusetts, onde morava. Todos eram respeitados. Alguns já enraizados com a cultura local escondiam suas origens, não por vergonha só mas por serem criticados por colegas, quando começaram a tratar os seus pacientes com o amor de que todos nós precisamos quando vamos a uma casa de saúde. Pergunto: alguém vai ao hospital por diversão? Claro que não. Ou vamos, porque estamos doentes, ou por que suspeitamos que estamos doentes , ou vamos visitar alguém que está hospitalizado. Nos três casos o mínimo que esperamos é sermos tratados com respeito e com carinho. 

Pois bem. O jornalista Fernando Brito, no Blog “Tijolaço” http://tijolaco.com.br/ publica matéria sobre este dilema que está vivendo Portugal.
  - Se o caro amigo internauta fizer uma pesquisa rápida no Google verá que o que pode acontecer aqui no Brasil , no futuro, com os médicos cubanos que o Governo Federal está trazendo para atuar em municípios onde não há profissionais brasileiros dispostos a atuar.
Os problemas não são de incapacidade profissional ou de dificuldade de comunicação.
São que os contratos firmados pelo governo português estão acabando e alguns deles terão de ir embora, para desespero das populações e dos prefeitos do Alentejo, do Algarve e do Ribatejo, regiões pobres que estão ameaçadas de ficarem, outra vez, sem médicos.
O portal SulInformação noticia:

Os cinco médicos cubanos que prestavam serviço de consultas no concelho de Odemira terminaram os seus contratos e regressaram ao seu país, deixando mais de 14 mil utentes sem médico de família.

Esta situação, segundo denuncia, em comunicado, a Câmara Municipal de Odemira, «está a provocar a rotura dos serviços médicos em Odemira, S. Teotónio, Sabóia e Vila Nova de Milfontes e o descontentamento da população e da autarquia, que têm vindo a expressar o seu descontentamento junto dos responsáveis locais, regionais e governamentais sem qualquer sucesso».

A autarquia sublinha, no comunicado a que oSul Informação teve acesso, que no litoral Alentejano prestavam serviço 16 médicos cubanos, cinco dos quais no concelho de Odemira e não foram substituídos, isto apesar de há alguns meses os autarcas terem sido alertados pela direção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Litoral Alentejano para a necessidade de garantir a substituição dos médicos cubanos que terminavam contrato no final do ano de 2011.
As prefeituras são as maiores defensoras do trabalho dos profissionais cubanos, pelos trabalhos pró-ativos de saúde pública que realizam.
Até o presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, apesar da cantilena de que os médicos estrangeiros são “superiores” em qualidade profissional, reconhece:

“Naturalmente os cidadãos que receberam os médicos estrangeiros ficaram satisfeitos. Porque até aí não tinham médico e passaram a ter. Não com as competências adequadas e desejáveis, mas passaram a ter um médico”
Pois é, né, doutor…
Agora, para quem quiser se aprofundar mais no “choque cultural” representado pelos médicos estrangeiros em Portugal, recomendo a leitura de um trabalho de duas sociólogas e uma psicóloga na Revista Iberoamericana de Salud y Ciudadanía, coordenada pela Universidade do Porto.
Ali, são ouvidos médicos cubanos, espanhóis e colombianos que foram trabalhar em Portugal e que falaram sobre essa experiência. 

Talvez tenhamos alguma coisa a aprender por aqui, não é?