domingo, 26 de setembro de 2010

Mea culpa

Nos encontramos amanhã às 16 horas.
Com esta frase, terminamos um diágolo pelo Skype, para recomeçar neste sábado com uma hora de atraso. Foi muito bom rever Delvi  e Iara Berger. Já se passaram 22 anos. Na época, 1986, Delvi Berger, dono da EBAM- empresa brasileira de assistência médica, foi candidato a deputado federal pelo PFL. De um ilustre desconhecido, irmão da senadora Eunice Michiles pela Amazônia, este homem nos ensinou, como se faz uma campanha política vitoriosa. Muitos, conhecedores da história diriam; é fácil, com muito dinheiro. Com 30 anos de experiência, já vi políticos gastarem muito mais e não elegerem-se. O que importa é que gastou do seu próprio bolso e não em conchavos, que depois teria de pagar de alguma forma, se eleito fosse. Temos de acabar com essa hipocrisia de achar que o político é eleito pelos belos olhos, pelo carisma pessoa ou porque é “lindinho”. Existem três maneiras de um político se eleger. Um passado com trabalho de base bem feita junto ao seu reduto, um investimento racional dentro do período eleitoral e uma “boca de urna” milionária, mobilizando cabos eleitoral e suas hostes, em todos o pontos possíveis de votação para angariar votos dos indecisos. Em 1986, Delvi reúne homens inteligentes para fazer uma campanha que atingiu 48 municípios dos então 64 que compunham o Estado do Rio de Janeiro. Monta um logística de deslocamento onde consegue promover comícios, conversar com lideranças e participar ativamente da campanha de seus aliados candidatos a deputado estadual. Cria um campanha televisiva que virou um case de marketing político, com uma simples frase padrão apenas trocando os elementos, a essência. Exemplos: Eu sou Botafogo, diz um personagem. Eu sou Vasco, diz outro. Ele vira-se para a câmera e diz; eu sou Delvi. 15 segundos em horário nobre que fixaram a imagem deste homem bonito, carismático, e bem articulado. Com o seu dinheiro. Não teve de colocar dinheiro na cueca, na bolsa, na meia... Pois bem. Queriam mais. Ele um homem de princípios, com intenção de mudar a cara deste pais através da constituinte de 88, principalmente na a área da saúde previdenciária, foi pressionado a aderir a lobbys pré formados, a doar quantias exorbitantes. Disse que não. Pra quê, se já estava eleito segundo pesquisas oficiais como o terceiro candidato mais votado para federal. Conseguiram engrendar um plano e o processaram por abuso do poder econômico. Ele perdeu as eleições e o seu amor pela política que nascia e morria ali. Desiludido, decide ir morar nos Estados Unidos com sua Iara e filhos. Lembro-me da despedida. Era uma liderança que deixava o Brasil. Talvez alguém questione; deveria ter continuado a luta. Uma pessoa apaixonada por um ideal, sabe ver o futuro e se perguntar. Se fizeram isto comigo agora o que de pior farão no futuro. Tivemos alguns exemplos no Brasil. Getúlio Vargas, Jânio Quadros, que, cada um à sua maneira, sentiram o peso da traição.




Trio-elétrico fabricado pela Ria Som
 Ah! Tolos aqueles que criticam homens com ideal. Não sabem reconhecer atitudes impopulares, nada populistas, mas tiraram que o Brasil do fundo poço. No final do governo Sarney, quando uma inflação beirava 40% ao mês, você ia ao supermercado, sem saber se o dinheiro que tinha no bolso era bastante para comprar o que precisava. É eleito um homem que através de um medida radical pára a sangria desatada. Collor de Melo acabou com a SEI – secretaria especial de informática, criada em 1970 e responsável pela política nacional de informática, chama os carros nacionais de carroças e incentiva a indústria automobilística a melhorar seu parque industrial com novas matrizes. E é afastado do governo por impeachment, por uma reforma na sua Casa da Dinda, por um Fiat Elba, doado à primeira dama e por movimentação financeira de fundos de campanha efetuadas por um asssessor. Parecia uma praga. Quase todos os que faziam parte do Congresso que o afastou nos anos subseqüentes, foram envolvidos em escândalos e afastados do poder por corrupção. Agora tudo se nega. Nada se faz. Escândalos atrás de escândalos. Porque não cai o governo. Porque as bases são fortes. O dinheiro que rola é o bastante para calar a maioria dos detentores do poder. E o patriarcalismo do governo com bolsas mil, dirigidas à maioria da população deste Brasil, criam uma “blindagem” impenetrável. Onde estão os cara pintadas. Onde estão as bandeiras tremulantes. São tantas notícias de corrupção que já virou banalidade. Isso é muito mau, porque a cada 2 anos somos obrigados a ir às urnas escolher novos representantes do povo. E nada muda.



Foi muito bom encontrar Delvi depois de 22 anos. Ver uma família feliz com cara de Brasil. O tempo passou e depois nos demos conta que tinha se passado 8 horas de prosa. Mea culpa se falei demais. Mas só o faço com amigos verdadeiros, cultos que tem conteúdo. No mais, calo-me e escuto. Afinal vale a máxima bíblica “Não dê pérolas a porcos” Perdemos um político sério. Delvi Berger. Aprendi muito com ele.   Mas não é a primeira vez, nem será a última. Mesmo com todos os desmandos o Brasil é grande demais para ser atingido. Vamos decolar na história dos países bem sucedidos socialmente. Vai demorar. Talvez com homens como Delvi, Collor e outros, o processo teria sido mais rápido. Mas ainda hoje a história está muito viva e distorcida, pois os personagens que a personificaram ainda está vivos. Com o tempo vai haver uma decantação dos fatos e vamos olhar para trás e não vamos acreditar que vivenciamos tudo isso. Fizemos a nossa parte, procurando melhorar a nossa qualidade de vida. Porque o dinheiro é bom, quando está a serviço do evolução social de um povo.